(Ter, 02 Mai 2017 14:12:00)
REPÓRTER: Ter uma jornada de mais de dez horas, todos os dias, ou ter os fins de semana comprometidos e, assim, acabar com os momentos de lazer e em família por estar trabalhando.
Diversos profissionais acabam se submetendo à essas condições. Keila Silva passou por isso. Ela trabalhou em uma construtora durante cinco anos. Começou como auxiliar de escritório e, com o passar dos anos, foi promovida à supervisora de vendas. Durante a semana, a jornada dela começava às sete e meia da manhã e só acabava por volta de nove horas da noite. E o trabalho continuava nos fins de semana. Ela conta que, além de uma lesão no ombro, acabou tendo os projetos de vida comprometidos:
SONORA: Keila Silva – supervisora de vendas
“Eu segurava o aparelho de telefone entre o ombro e a cabeça, segurava ali, e tinha que digitar muito rápido – uma ordem de compra, uma liberação de compra, alguma atividade que tinha que ser executada com muita rapidez e não podia passar do horário, entendeu? Então, essa jornada em excesso roubou minha vida, minha dignidade, meus direitos como ser humano, entendeu? A minha vida em família, em sociedade, comprometeu muito os meus sonhos e projetos de vida.”
REPÓRTER: Emocionada, Keila diz se arrepender de ter se submetido a uma jornada exaustiva.
SONORA: Keila Silva – supervisora de vendas
“Eu aconselho: não faz isso não. Faz isso não porque a saúde da gente é o bem mais precioso. É muito triste entrar na depressão, mas ficar no estado que eu fiquei e não poder trabalhar, não ter mais disposição, porque eu gosto de trabalhar.”
REPÓRTER: A professora de Biologia Lana Ladeira desenvolveu um quadro de stress também por trabalhar demais. Além da jornada semanal, ela dava aulas nos fins de semana e feriados. Depois de um susto, resolveu repensar o ritmo de trabalho:
SONORA: Lana Ladeira – professora de Biologia
“E aí teve um dia que eu tava muito cansada. Eu dei aula e cheguei em casa já passando mal. O coração disparou, comecei a suar frio, tremer, parecia que eu tava infartando. Então eu tive que começar a aprender a relaxar, a largar um pouco o domingo pra ver se eu melhorava. Mas eu tinha episódios frequentes.”
REPÓRTER: Além de comprometer a qualidade de vida do empregado, a jornada excessiva pode provocar doenças graves. O psicólogo e especialista em qualidade de vida no trabalho, Mário Cesar Ferreira, explica que jornadas muito prolongadas colocam em risco a saúde do profissional.
SONORA: Mário Cesar Ferreira – psicólogo
“A literatura e os resultados de pesquisa mostram isso de modo bastante farto. Sobre trabalho, a intensificação do trabalho, a jornada ela realmente repercute negativamente na saúde mental e na saúde física dos trabalhadores. E aí tem questões clássicas como hipertensão, problemas cardíacos e também problemas de saúde mental, especialmente relacionados aos transtornos de ansiedade e transtornos do tipo depressivo que têm aparecido de modo mais frequente.”
REPÓRTER: A jornada de trabalho definida pela Consolidação das Leis do Trabalho é de no máximo oito horas por dia, com possibilidade de duas horas extras. Quando ultrapassa esse período, a jornada pode ser considerada exaustiva e causar o chamado dano existencial. A ministra Delaíde Miranda Arantes, explica que nesses casos, os prejuízos causados à vida particular do empregado devem ser provados.
SONORA: Delaíde Miranda Arantes – ministra do TST
“É necessário que o trabalhador prove que aquela jornada exaustiva lhe trouxe prejuízo. Prejuízo para o convívio familiar, para sua formação profissional, para a sua saúde, prejuízo pro convívio social. Nós sabemos que tudo é decorrência, mas não basta que saibamos que tudo é decorrência, é importante que seja provado.”
REPÓRTER: Além de indenização, os empregadores que desrespeitam o cumprimento da jornada de trabalho, podem ter que pagar outros direitos trabalhistas, em caso de rescisão contratual. Por isso, as empresas devem prevenir o problema, estabelecendo ações que priorizem a qualidade de vida no trabalho.
Reportagem: Priscilla Peixoto
Locução: Carlos Balbino
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