Atuação de Serra e Conceição Tavares na Cepal ajudou na luta contra o autoritarismo na América Latina — Senado Notícias

A Rádio Senado veicula nesta quarta-feira (19) o terceiro programa da série “A Cepal e o Brasil”, em alusão aos 70 anos da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão criado pela ONU em 1948 para auxiliar a região na busca da superação do subdesenvolvimento sócio-econômico.

Neste programa, é destacado o trabalho “Além da estagnação: uma discussão sobre o estilo de desenvolvimento recente do Brasil”, lançado pelos economistas José Serra e Maria da Conceição Tavares em 1970 quando ambos trabalhavam para a Cepal em Santiago, no Chile.

O trabalho acabou exercendo um forte impacto no debate político e acadêmico por parte de grupos contrários a regimes autoritários que existiam na época em diversos países da região. Entre outras razões, porque “Além da estagnação” trazia um levantamento, com dados pormenorizados, sobre o modelo de desenvolvimento econômico implantado pelo regime militar brasileiro a partir de 1964.

– Qual a importância deste trabalho? Foi mostrar que o milagre brasileiro daquele momento estava sendo perverso. Estava crescendo com concentração de renda. E que a concentração de renda infelizmente estava sendo funcional para aquele tipo de crescimento que estava ocorrendo. Então você inaugura desta maneira uma dimensão econômica de uma visão política, que vai receber importância na mobilização dos anos 70 contra a ditadura. E a visão era de que você precisa recuperar a democracia para crescer com distribuição de renda. Você com a democracia conseguiria fazer com que a população pressionasse os governos, de maneira a se partir para um modelo distinto de crescimento. Um crescimento voltado não para as elites, e sim para a população como um todo. Esta foi a importância política deste texto “Além da estagnação”, que é muito famoso, da Conceição e Serra – detalha o economista Ricardo Bielschowsky, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Modelo perverso

Analisando os dados da época sobre o regime militar brasileiro, Serra e Conceição Tavares constataram que o dinamismo do modelo econômico implantado dependia da concentração da renda. Ela reajustava a estrutura de demanda na direção da estrutura produtiva existente, ampliando o consumo das classes médias e altas e aumentando o excedente para financiar a acumulação.

Serra e Conceição Tavares utilizaram o termo “perverso” para definirem este modelo de crescimento, termo que acabou pegando e sendo usado por economistas e pesquisadores de outros países na análise de modelos semelhantes implantados em suas nações de origem.

– ”Além da estagnação” refletiu as discussões que tínhamos nesta época em Santiago do Chile. No âmbito da Cepal e no âmbito da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). Neste sentido a repercussão que este trabalho acabou conseguindo não me surpreendeu, porque toda a temática já estava na mesa. O que eu e a Conceição Tavares fizemos foi sistematizar o enfoque crítico e aplicá-lo à análise do modelo econômico brasileiro, que era nossa grande prioridade. Mas na verdade o conhecimento e a referência latino-americana que tínhamos naquele período foram fundamentais – detalhou o hoje senador José Serra (PSDB-SP) em entrevista para a Agência Senado.

O programa está disponível na página da Rádio Senado na internet (www.senado.leg.br/radio), sendo veiculado também pela rádio no programa “Conexão Senado” às 8h30, com reprise às 22h.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte Oficial: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/12/19/atuacao-de-serra-e-conceicao-tavares-na-cepal-ajudou-na-luta-contra-o-autoritarismo-na-america-latina.

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