Boa parte das atenções do mundo estarão voltadas, nas próximas semanas, para os Jogos Paralímpicos Paris 2024, que começaram nesta quarta-feira (28). O evento internacional de esportes de alto desempenho reúne atletas com deficiências motoras, amputados, cegos, além de pessoas que sofreram paralisia cerebral e que possuem alguma deficiência mental.
As pessoas com deficiência auditiva não participam das Paralimpíadas, mas elas têm uma competição própria, os Jogos Surdolímpicos, organizado pelo Comitê Internacional de Esportes para Surdos (ICSD). Os próximos Jogos Surdolímpicos acontecem em 2025, em Tóquio, e no STF há alguns atletas surdos de olho em uma vaga.
Ederson Rocha, Aldo da Silva e Joziel Nascimento são jogadores profissionais de futsal e representam Brasília e o Brasil em campeonatos nacionais e internacionais. Com deficiência auditiva, eles trabalham na digitalização de processos e documentos e são os personagens de mais uma matéria da série “Mais da gente”, que conta experiências únicas, talentos e curiosidades que vão muito além do trabalho cotidiano no Supremo.
O começo
Quem olha para Ederson Rocha não imagina sua destreza com a bola e seu desempenho em quadra como ala direita. Com 90% de surdez nos dois ouvidos desde seu nascimento, ele já foi convocado quatro vezes pela Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBSD) para participar de campeonatos internacionais no Brasil (São Paulo e Ceará) e no exterior (Turquia e Equador).
Os primeiros contatos com a bola começaram aos oito anos de idade. “Foi meu pai quem me ensinou”, contou. O primeiro campeonato foi aos 15 anos, junto com o irmão, que também é surdo.
A surdez dificultou a matrícula dos irmãos em escolinhas de futebol. Nessa época, chegaram a jogar com ouvintes da região em que moravam, mas não participavam de campeonatos.
Um dia, surgiu uma oportunidade para jogarem na Associação Desportiva dos Surdos de Brasília – Taguatinga (ADSB). Começaram no banco de reservas, só observando. Até que em uma partida, quando o time perdia por 4 a 0, os dois entraram em quadra. “Arrasamos. Nosso time fez muitos gols e, depois disso, nunca mais paramos de jogar”, comentou de forma efusiva.
Atleta profissional internacional
Atualmente com 34 anos, Ederson jogou na ADSB até os 20, quando passou a jogar pela Associação dos Surdos de Brasília (ASB) e pela Federação Brasiliense Desportiva dos Surdos (FBDS) e a competir em campeonatos no Brasil e no mundo.
Hoje, recebe uma bolsa de incentivo financeiro que exige a presença nos treinos. Durante os campeonatos, a federação também fornece uniformes, suplementos e vitaminas e paga despesas com passagens e hospedagens.
Ederson diz que consegue jogar facilmente com ouvintes. “Não preciso ouvir para jogar”, ressalta. Ele explica que o campo visual dos surdos é maior e, por isso, consegue ver quando os outros jogadores o chamam. “É uma questão de prática”.
Goleiro
Aldo da Silva, 39 anos, é surdo de nascença, com perda auditiva superior a 90% nos dois ouvidos. Ele joga futsal desde muito jovem, quando ainda estudava no Centro Educacional da Audição e Linguagem – Ludovico Pavoni (CEAL-LP), em Brasília.
Aos 16 anos, foi chamado para participar de um campeonato em Passo Fundo (RS) e se destacou. “Eu ficava no banco, mas peguei alguns pênaltis quando fui escalado. Ali começaram a acreditar mais em mim”, relembra. O time até quis experimentá-lo em outras posições, mas Aldo preferiu continuar no gol.
Muito esforçado e sempre em busca de melhorar, Aldo venceu alguns campeonatos em campo e em quadra, dois deles pela federação de futsal. Em fevereiro deste ano, além de ser campeão, ganhou o troféu de melhor goleiro.
Aldo e Ederson jogam para times rivais. “Eu preciso defender os gols do Ederson, e isso não é fácil não”, brinca. “Sofro muito porque a equipe dele é mais forte”. Há três anos, o atleta também pratica handebol e está considerando a possibilidade de ingressar em algum time, também como goleiro, mas pretende conciliar os dois esportes. “Praticar um esporte é muito importante para a saúde e para conquistar meus sonhos”, conclui, de olho nos Jogos Surdolímpicos de Tóquio em 2025.
O novato
Ao contrário de seus colegas, Joziel Nascimento, 31 anos, é novato no futsal. Com surdez profunda, superior a 90%, ele começou a jogar bola na rua aos oito anos, mas só se tornou profissional há sete meses. No ano passado, quando se mudou de São Paulo para Brasília, Joziel pediu a um amigo a indicação de um local de treino para surdos. Desde então, joga pela associação na posição de ala. Nesse pouco tempo, já participou de campeonatos de futsal pelo Brasil e, futuramente, vai começar a jogar também futebol de campo.
O gosto pela prática esportiva vem dos benefícios à saúde e do prazer de vencer. “Gosto de ser campeão, porque isso me traz muita alegria”, afirma. Sobre se tornar profissional após os 30 anos, acredita que “a mentalidade e os objetivos são diferentes na fase adulta”.
O jogo
Segundo os atletas, uma partida de futebol é sempre muito visual, independentemente de os jogadores serem ouvintes ou surdos. Para chamar atenção em campo, o juiz pode acenar, levantar uma bandeira e apitar, porque pode haver também pessoas não totalmente surdas. O juiz, sempre um ouvinte, usa gestos para sinalizar substituições, faltas e fim de jogo.
STF Sem Barreiras
Os três atletas fazem parte de um convênio do Supremo, através do programa STF sem Barreiras, com a Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe). Desde o início de abril, pessoas com deficiência física, auditiva, intelectual e com espectro de autismo começaram a trabalhar no STF.
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Fonte Oficial: Portal STF