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9ª CIDH: participantes discutem a defesa das prerrogativas e dos direitos humanos durante tragédias

Buscando ampliar o debate acerca da garantia das prerrogativas da advocacia, bem como dos direitos humanos em situações de adversas, a 9ª Conferência Internacional de Direitos Humanos (CIDH) promoveu, nesta quinta-feira (23/5), o painel “Prerrogativas e desafios para defesa dos direitos humanos”. A 9ª CIDH ocorre nestes dias 23 e 24 de maio, em Campinas (SP).

Advocacia gaúcha

A recente tragédia ocasionada pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul e as suas implicações para a advocacia local foi tema da palestra do presidente da Comissão Nacional de Prerrogativas e Valorização da Advocacia (CNDPVA). “É uma situação desoladora. O Rio Grande do Sul tem, ao todo, 497 municípios. Destes, 467 foram afetados. Até a última atualização da defesa civil do estado, são 2.342.460 pessoas diretamente atingidas, e 581.663 desalojadas”, disse Breier. Entre os locais em que as águas do rio Guaíba atingiram em Porto Alegre, está a sede da seccional gaúcha e o galpão que a OAB-RS colocou à disposição para receber desabrigados. “E o cenário à frente não é dos melhores: aqui em Porto Alegre voltou a chover e voltou a alagar onde a água já tinha recuado”, contou Ricardo Breier.

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“É uma tragédia sem precedentes. Deixou mais vulneráveis as pessoas pobres, destruiu cidades inteiras, que já cogitam mudar de lugar”, falou Breier, ao fazer um prognóstico preocupante: “Os dias aqui estão ficando mais frios, o que aumenta os casos de doenças respiratórias. Há, ainda, os que tiveram contato com a água contaminada e podem desenvolver inúmeras doenças derivadas da enchente, o que irá demandar ainda mais do sistema de saúde do estado que está colapsado”, disse.

O presidente da CNDPVA destacou que, em meio a esse tipo de tragédia, não se pode negligenciar a defesa das prerrogativas dos advogados, pois é mais que uma defesa da classe, mas sim de “toda a sociedade”. 

“A advocacia exerce o seu papel na defesa do cidadão, consagrado não só na legislação brasileira mas nos tratados internacionais”, afirmou Breier, que lembrou que nesses estados de calamidade pública, a defesa dos direitos humanos é fundamental.

De acordo com ele, desde o início das chuvas mais fortes, o CFOAB, juntamente à OAB-RS, enviou requerimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), solicitando a expedição de uma certidão para garantir que todos os advogados e advogadas inscritos na OAB-RS e residentes no estado tenham seus pedidos de reabertura de prazos nos Tribunais Superiores e em todos os demais tribunais do país  assegurados. 

Além da suspensão de prazos, também foi deferido o pedido de emissão de alvarás para a advocacia gaúcha. O presidente da CNDPVA lembrou que ainda há muito a ser feito. “Não temos previsão de quando teremos restabelecido algum tipo de normalidade. Enquanto não temos esse alento, vamos seguir apoiando a advocacia, que hoje está impedida de trabalhar – seja pelo não funcionamento dos tribunais -, e nos casos mais graves, porque perderam seu local de trabalho e seus instrumentos de trabalho. Cada caso será estudado para conseguirmos dar o devido suporte a cada colega que está passando por essa situação extremamente difícil”, concluiu.

Responsabilidade do estado 

A presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Silvia Souza, também abordou a situação crítica no Rio Grande do Sul devido a eventos climáticos extremos, enfatizando a importância de discutir a responsabilidade do estado na prevenção desses desastres. 

Ela destacou que esta não é a primeira vez que o estado enfrenta tais adversidades e que medidas preventivas adequadas não foram tomadas. “Já havia um alerta, mas infelizmente o que a gente pode verificar é que não foram tomadas medidas e providências adequadas para se evitar que chegássemos a esse ponto”, disse.

Segundo a presidente da CNDH, aproximadamente 1,8 milhão de pessoas foram impactadas pelas enchentes. “O estado teve 467 municípios atingidos, vários decretos de calamidade pública, municípios inacessíveis e milhões de pessoas desalojadas”, relatou.

Silvia Souza ressaltou, ainda, que a responsabilidade não pode ser atribuída exclusivamente aos fenômenos climáticos. “Não dá para atribuir só a um fenômeno climático e eximir o estado da sua responsabilidade”, concluiu. “Este painel buscou debater ações concretas e eficazes do governo estadual para prevenir futuros desastres climáticos”, finalizou.

Confira e baixe as fotos do evento no Flickr do CFOAB

Conheça os participantes do debate:

Presidente: Flávio José Ferreira (secretário da CNDH da OAB-MT)

Relatora: Dandara Pinho (membro da CNDH e conselheira seccional da OAB-BA)

Palestrantes: 

Prerrogativas em tempos de Crise: a tragédia no Rio Grande do Sul – Ricardo Breier (presidente da Comissão Nacional de Prerrogativas e Valorização da Advocacia)

O Papel da Advocacia Popular Diante de Catástrofes Naturais – Silvia Souza (presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos do CFOAB)

Sentença do Caso Salles Pimenta e a Advocacia da Resistência – Rafael Salles Pimenta (presidente do Instituto Gabriel Pimenta de defesa dos defensores de Direitos Humanos)

Advocacia Popular como Viabilizadora de Direitos Humanos – Thais Nogueira Lopes (membro da CNDH da OAB-DF)

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Fonte Oficial: OAB

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