Os testes de DNA comerciais ganharam popularidade como ferramentas para descoberta da ancestralidade, identificação de predisposições genéticas a doenças e até mesmo traços de personalidade. Empresas como 23andMe e AncestryDNA oferecem esses serviços a preços acessíveis, permitindo que qualquer pessoa envie uma amostra de saliva e receba um relatório detalhado sobre sua composição genética. No entanto, o uso crescente dessas tecnologias levanta preocupações sobre privacidade genética, segurança dos dados e uso indevido de informações sensíveis.
A privacidade genética está diretamente relacionada ao direito à privacidade, assegurado pela Constituição Brasileira, além de regulamentações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e tratados internacionais sobre a proteção de informações pessoais. O DNA contém dados únicos que não apenas identificam um indivíduo, mas também fornecem informações valiosas sobre seus parentes, descendentes e gerações futuras. A falta de regulamentação específica para esse tipo de dado pode levar a cenários preocupantes, como o uso dessas informações para fins comerciais, governamentais ou até mesmo discriminatórios.
Os Riscos do Compartilhamento de Dados Genéticos
As informações genéticas, uma vez coletadas, podem ser armazenadas e compartilhadas sem que os consumidores tenham total clareza sobre como seus dados estão sendo utilizados. Muitas empresas de testes de DNA incluem em seus contratos a possibilidade de compartilhar as informações com terceiros, como laboratórios farmacêuticos, seguradoras e instituições de pesquisa, sem que os usuários compreendam plenamente as implicações.
Esse cenário abre caminho para práticas controversas, como a precificação diferenciada de seguros de vida com base em predisposições genéticas ou a discriminação em processos seletivos de empregos. Além disso, há o risco de vazamentos de dados, o que poderia resultar na exposição de informações extremamente sensíveis sobre um indivíduo e sua família.
Outro ponto de atenção é o uso dessas informações pelo Estado. Em alguns países, bancos de dados genéticos já são utilizados para investigações criminais e identificação de suspeitos. No Brasil, ainda não há uma regulamentação clara sobre o uso de DNA coletado por empresas privadas para esse tipo de finalidade, o que gera um debate sobre os limites éticos e legais dessa prática.
O Papel da LGPD na Proteção dos Dados Genéticos
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde 2020, classifica dados genéticos como dados sensíveis, exigindo consentimento explícito para sua coleta e processamento. Além disso, determina que as empresas informem aos consumidores sobre a finalidade da coleta, o tempo de armazenamento e as medidas de segurança adotadas.
Embora a LGPD ofereça uma estrutura para a proteção de dados pessoais, ainda há desafios específicos quando se trata de dados genéticos. O consentimento informado nem sempre é claro ou compreensível para os consumidores, e muitas empresas podem utilizar contratos extensos e complexos para obter permissão de uso de maneira pouco transparente.
O Direito à Privacidade Genética e os Desafios Éticos
O direito à privacidade genética vai além da proteção contra vazamentos de informações. Trata-se de garantir que cada indivíduo tenha controle total sobre seus dados genéticos, podendo decidir quem pode acessá-los e para quais finalidades. Marcos Soares, jornalista do Portal do Magistrado, destaca:
“O avanço da tecnologia genética traz grandes benefícios, mas também impõe desafios regulatórios que não podem ser ignorados. A falta de clareza sobre o destino dos dados genéticos coletados por empresas privadas abre precedentes para abusos, exigindo um olhar atento do legislador para garantir que a privacidade dos cidadãos seja preservada.”
O crescimento do setor de testes de DNA comerciais reforça a necessidade de um debate mais aprofundado sobre os direitos dos consumidores, os limites do uso desses dados e as responsabilidades das empresas que oferecem esses serviços.