A era da informação chegou ao Judiciário. Cada sentença, petição ou despacho judicial gera dados — e é exatamente desse volume que nasce a jurimetria, um campo que aplica estatística, inteligência artificial e análise preditiva ao Direito. No Brasil, essa ferramenta começa a ganhar espaço entre juízes, promotores e advogados que buscam decisões mais embasadas, estratégicas e transparentes.
Jurimetria é, em essência, o uso de dados para compreender o comportamento dos tribunais. Isso significa identificar padrões: quanto tempo um tipo de ação costuma demorar, qual é o índice de procedência em determinados temas, como diferentes câmaras julgam causas semelhantes. Em vez de confiar apenas na intuição ou na experiência pessoal, o operador do Direito passa a contar com uma base empírica de apoio.
Aplicações práticas para magistrados e membros do MP
No campo da magistratura, juízes podem utilizar a jurimetria para embasar decisões repetitivas, comparar fundamentos majoritários entre tribunais e até reduzir divergências em matérias de massa, como direito do consumidor e previdenciário. Ao acessar dashboards com estatísticas processuais, torna-se possível prever consequências práticas de determinadas decisões ou até reorganizar o acervo de maneira mais eficaz.
Para os promotores de justiça, a jurimetria permite identificar políticas públicas que geram reincidência criminal, áreas de maior demanda em saúde e educação, ou a efetividade de medidas extrajudiciais como TACs e recomendações. No processo penal, por exemplo, é possível cruzar dados de audiências de custódia, prisões em flagrante e medidas cautelares aplicadas — contribuindo para um Ministério Público mais estratégico.
Marcos Soares: “Decisões públicas devem ser acompanhadas de inteligência pública”
Segundo Marcos Soares, jornalista do Portal do Magistrado, a jurimetria inaugura uma nova responsabilidade institucional. “Em um país com mais de 80 milhões de processos, confiar apenas na memória ou no achismo é um risco. Decisões públicas devem ser acompanhadas de inteligência pública — e os dados estão aí para isso. A jurimetria não substitui o juiz ou o promotor, mas oferece a eles um mapa mais nítido do terreno que estão pisando.”
Soares destaca ainda que a adesão à jurimetria exige mudança cultural: “O desafio não é só técnico, mas mental. É preciso vencer a resistência à análise de dados no Direito, muitas vezes tratada como algo frio ou impessoal, quando na verdade ela pode tornar a justiça mais humana e previsível”.
Ainda em desenvolvimento no Brasil, a jurimetria tem potencial para tornar o sistema de justiça mais eficiente, coerente e democrático. Para juízes e promotores, ela representa uma nova lente: uma forma de decidir com base não apenas na lei, mas também na realidade.