A violência doméstica contra a mulher parece não dar trégua. Mas, a cada dia, cresce o número de denúncias, cenário que revela que as mulheres – e a sociedade – estão sendo encorajadas a romper o ciclo de violência. Com essa abordagem, o jornalista Raphael Guerra, do Jornal do Commercio de Pernambuco, conquistou o primeiro lugar na categoria “Mídia” da edição de 2024 do Prêmio Juíza Viviane Vieira do Amaral, .
A matéria vencedora “Por dia, 135 mulheres pedem socorro à polícia em Pernambuco”, destacava as orientações no Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, celebrado no dia 5 de abril. A principal delas é buscar as autoridades ao primeiro sinal de violência – verbal, física ou patrimonial -, a fim de evitar tragédias.
A reportagem, publicada em 2023, informava que, nos dois primeiros meses daquele ano, 7.960 vítimas prestaram queixas no estado, uma média de 135 denúncias por dia. Ainda assim, o número representava uma subnotificação dos casos de violência. Dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, apontavam que, em 2023, pelo menos 86% das vítimas de feminicídio nunca registraram ocorrência. Naquele ano, houve um aumento de 8% no número de assassinatos em relação a 2022, passando de 72 para 78 casos.
A cobertura da violência doméstica e contra a mulher pela imprensa é fundamental, como defendeu o colunista da editoria de Segurança do Jornal do Commercio, Raphael Guerra. “Nosso papel não é apenas de denunciar os crimes, mas incentivar que as vítimas procurem ajuda. Procuramos apresentar às mulheres a rede de proteção para que elas percebam que não estão sós e que a denúncia é a única forma de quebrar o ciclo de violência”, afirmou.
Guerra disse ainda que, desde 2018, o jornal tem abordado o tema de forma rotineira. “Naquele ano, foi criado um contador de feminicídios em Pernambuco, com um grupo de repórteres acompanhando todos os casos registrados pela polícia, desde o início do inquérito, até o julgamento”. Depois, na pandemia, com o aumento de crimes, a equipe decidiu manter uma cobertura constante de prevenção à violência contra a mulher.
Para participar do 4.º Prêmio Viviane do Amaral, concedido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Guerra enviou cerca de 15 matérias, todas feitas no período de um ano e com recortes de prevenção à violência, esclarecimentos sobre o tema e de incentivo às denúncias. “O prêmio do CNJ é um reconhecimento e também um incentivo pelo trabalho em prol da proteção às mulheres”, afirmou.
O jornalista também destacou que as vítimas precisam se sentir seguras para que decidam procurar ajuda. “Então, é preciso que os veículos de comunicação sempre apresentem os meios de denúncia e a rede de proteção disponível nos estados”. Para ele, a imprensa deve conhecer essa rede, como as casas de acolhimento, para revelar possíveis problemas e cobrar das autoridades as soluções. “No jornalismo, alguns temas precisam ser tratados de forma permanente, jogando luz em absurdos e cobrando ações efetivas do poder público. A violência contra a mulher é um desses assuntos que precisam estar em evidência sempre”.
Premiação
Criado pela Resolução CNJ n. 377/2021, o Prêmio Juíza Viviane Vieira do Amaral, leva o nome da juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), vítima de feminicídio praticado, em dezembro de 2020, pelo ex-marido.
O prêmio é concedido em seis categorias: tribunais; magistrados e magistradas; atores do sistema de Justiça Criminal – Ministério Público, Defensoria Pública, advogados e advogadas e servidores e servidoras; organizações não governamentais; mídia; e produção acadêmica.
Texto: Lenir Camimura
Edição: Thaís Cieglinski
Agência CNJ de Notícias
Fonte Oficial: Portal CNJ