O exercício da advocacia no Brasil é marcado por realidades bastante distintas entre os grandes centros urbanos e as cidades do interior. Com dinâmicas sociais, estruturas do Judiciário e perfis de clientela muito diversos, advogados que atuam em regiões metropolitanas enfrentam desafios e adotam estratégias bem diferentes dos colegas que trabalham em comarcas interioranas.
Nas metrópoles, a advocacia tende a ser mais segmentada e competitiva. Escritórios especializados, com departamentos distintos e forte presença digital, disputam espaços em nichos como direito empresarial, contratos complexos, mercado financeiro e novas tecnologias. A demanda costuma envolver causas de maior valor econômico, maior complexidade técnica e tramitação eletrônica acelerada. Nesse ambiente, o marketing jurídico, a gestão de reputação e o networking com outras bancas ganham peso estratégico.
Já nas cidades do interior, a advocacia muitas vezes exige uma atuação mais generalista. O advogado interiorano costuma atender clientes que buscam solução para demandas de direito de família, previdenciário, trabalhista, cível e criminal, muitas vezes sem distinção clara entre as áreas. A relação com o cliente tende a ser mais próxima, com base em confiança pessoal construída ao longo do tempo. O boca a boca ainda é uma das principais fontes de novos casos, e a reputação local é determinante.
Outra diferença está na estrutura do Judiciário. Nas metrópoles, as varas são sobrecarregadas, os despachos são mais técnicos e a comunicação com o magistrado é quase sempre mediada por sistemas eletrônicos. No interior, o acesso direto ao juiz e ao promotor é mais comum, as audiências são mais frequentes e o peso da atuação presencial ainda é significativo. Isso exige do advogado interiorano mais desenvoltura em sustentação oral, audiência e argumentação direta.
Do ponto de vista estratégico, o advogado da capital precisa investir em diferenciação por competência técnica, atualização constante e gestão profissional de escritório. Enquanto isso, o advogado do interior se destaca quando alia domínio prático à sensibilidade social, sabendo dialogar com a realidade local e adaptar o discurso jurídico a ela.
Segundo Marcos Soares, jornalista do Portal do Magistrado, “a advocacia no interior é mais artesanal, mas não menos sofisticada. Ela exige um tipo de inteligência prática e emocional que muitas vezes passa despercebida nos grandes centros. Já nas metrópoles, o desafio é sobreviver à pulverização do mercado e à pressão por produtividade.”
Entender essas diferenças não é apenas importante para quem atua nas duas frentes, mas também para aqueles que desejam escolher onde estabelecer carreira. O sucesso na advocacia está menos ligado ao local e mais à capacidade de compreender o seu contexto de atuação, adaptar estratégias e cultivar relações com clientes, colegas e o próprio Judiciário.
