A atuação do advogado no processo não se limita à aplicação da lei. Em um cenário cada vez mais técnico e competitivo, a advocacia estratégica passa a incluir a análise do perfil do magistrado como uma ferramenta legítima para aprimorar a comunicação processual e aumentar a efetividade da atuação. Entender o estilo de decisão, as preferências argumentativas e a visão jurídica de quem julga pode ser um diferencial decisivo desde que feito com ética e respeito institucional.
Esse tipo de análise começa pela observação das decisões anteriores do juiz: sentenças, despachos e votos, quando disponíveis. Muitos magistrados mantêm uma linha de fundamentação recorrente alguns são mais inclinados ao formalismo legal, outros valorizam princípios constitucionais ou o aspecto social do Direito. Há também quem privilegie a conciliação ou opte por interpretações mais econômicas do processo. Detectar esses padrões permite ao advogado ajustar a linguagem, o foco argumentativo e até a estrutura da petição para dialogar com a perspectiva de quem julgará o caso.
Marcos Soares, do Portal do Magistrado, afirma que “a advocacia estratégica não é uma tentativa de agradar o juiz, mas de construir uma comunicação jurídica mais eficaz. O advogado que conhece o perfil do julgador consegue apresentar seus argumentos com maior aderência à forma de pensar daquele magistrado, o que torna sua atuação mais eficiente sem comprometer a técnica ou a ética.”
Além das decisões anteriores, é possível obter informações relevantes em jurisprudências assinadas, artigos publicados e participações em eventos jurídicos. Em comarcas menores, o contato cotidiano e o conhecimento do estilo de trabalho do juiz também colaboram para esse mapeamento. Naturalmente, o objetivo nunca deve ser pessoalizar a relação processual, mas sim adaptar a estratégia à realidade concreta do foro.
Essa análise pode ser ainda mais relevante em tribunais colegiados, onde a identificação das tendências de determinados desembargadores ou ministros ajuda a orientar a elaboração de recursos e memoriais. Em tempos de inteligência de dados, inclusive, há escritórios que sistematizam essas informações para atuar com mais previsibilidade.
No fim das contas, a análise do perfil do magistrado não substitui o bom Direito, mas o potencializa. Aliar técnica jurídica sólida com sensibilidade estratégica é uma característica da advocacia contemporânea, que entende o processo não como um campo neutro, mas como um espaço de diálogo entre instituições e sujeitos de direito. E nesse diálogo, conhecer o interlocutor pode ser a chave para construir uma tese mais persuasiva e, por que não, mais justa.
